No começo do anos 1960, uma senhora que cantava na missa da Igreja de Nossa Senhora Auxiliadora, em Padre Pinto (MG) – distrito de Rio Piracicaba, antigo Quilombo do Caxambu –, convidou um menino (cuja bela voz já havia chamado a atenção dos professores na escola) para acompanhá-la. “Eu disse não, mas ela insistiu e aceitei. Gostei da ideia, criei coragem e fui. Tremi, molhei a camisa de nervoso. Foi emoção e tanto, mas com muita aflição”, recorda Pedro Alcântara, hoje com 56 anos. Passada a tensão da estreia, continuou na actividade. E, procurando aprimoramento, pediu ao padre para formar coro que, além de sua parceira inicial, contava com outros integrantes da família – pai, mãe, irmãs, primos etc. E, assim, em 1963, com oito integrantes, a Família Alcântara fazia sua estreia musical nas celebrações de Nossa Senhora do Rosário. O templo foi o único palco deles até 1975, quando uma participação em festival de corais abriu palcos que não os religiosos.A Família Alcântara está comemorando 45 anos de existência. A festa de celebração começa segunda-feira (11/08), em João Monlevade, com show na Praça do Povo, às 20h. Integram o clã cerca de 100 pessoas, metade delas participando dos concertos. “São integrantes de zero – como a Beatriz e a Alice – aos setenta e poucos anos”, conta Ivone de Fátima, 56 anos, directora do grupo, cantora e cúmplice de Pedro Alcântara (“éramos os caçulas e fazíamos tudo juntos”) nas aventuras que fizeram surgir o coral. Com dezenas de apresentações no Brasil e incursão internacional – duas apresentações em Lisboa, Portugal, têm três discos e duas peças que contam a história do grupo. E o que gostariam de ganhar como presente de aniversário? “Um ônibus”, responde Ivone. “Temos apresentações em locais distantes e o preço do transporte fica mais caro do que o cachê que recebemos”, explica, apontando fonte inevitável de problemas. “Quem mais quer o nosso trabalho, pouco pode”, observa.“Escolas, entidades públicas, prefeituras sempre pedem a nossa música para trabalhos de instrução e quando precisam de ações para levantar a auto-estima de crianças e comunidades”, conta, garantindo que boa auto-estima é que não falta à Família Alcântara: “Temos vida simples, mas somos felizes. A alegria para nós está acima de tudo. Cantar, sermos aplaudidos pelo que fazemos, as pessoas pedirem bis, é muito gratificante”, completa. “Somos uma família igual a todas as outras, cada hora tem um problema, mas ele fica no camarim.
Depois que toca o terceiro sinal e é hora de entrar no palco, tudo o mais fica para trás”, afirma. “A diferença de fazer música com parentes – brinca – é que não dá para substituir. Brigou? Tem de esperar fazer as pazes”. Ela é quem mais dá bronca na turma: “Você pode ser tudo na vida, menos irresponsável”, justifica.
FOLCLORE Pedro Alcântara, o maestro da Família Alcântara, explica que o grupo é voltado para repertório que resgata o folclore brasileiro e os cantos do congado, que foram adaptados para coral por ele. Estão no repertório algumas canções escritas pela irmã Casimira, também autora das peças que contam a história da família. “Nossa música é técnica, coração e tradição. Com o objectivo de manter a família unida e divulgar a cultura afro-brasileira”, explica. A música era hábito familiar, incentivado pelos pais. Não havia projeto de formar um coro. Ele conta que Ivone sonha com um disco ao vivo. Há também planos de construção de uma sede, para facilitar ensaios, com escritório e guarda-figurinos. Mas isso não é prioridade.
45 ANOS DO CORAL FAMÍLIA ALCÂNTARA Celebração começa segunda-feira, às 20h, com apresentação na Praça do Povo, em João Monlevade (MG). Até quinta-feira serão promovidas oficinas de canto, esteiras e miniaturas de fogão a lenha; e haverá exibição do filme Família Alcântara e festa.
45 ANOS DO CORAL FAMÍLIA ALCÂNTARA Celebração começa segunda-feira, às 20h, com apresentação na Praça do Povo, em João Monlevade (MG). Até quinta-feira serão promovidas oficinas de canto, esteiras e miniaturas de fogão a lenha; e haverá exibição do filme Família Alcântara e festa.
Informações: (31) 8458-0300.
FONTE : Walter Sebastião - EM Cultura
Comentários