O assunto é dos mais polêmicos do carnaval e nesta época ganha mais espaço com as eliminatórias. Os chamados "sambas de escritório" são cada vez mais comuns, onde os compositores se aproveitam da abertura das alas. Dinheiro, vaidade e disputas políticas estão por trás da face mais obscura da profissionalização do Carnaval: as escolhas de samba-enredo.
O nome "escritório", para muitos, já não é exactamente o mesmo. O compositor André Diniz, da Vila Isabel, é um dos maiores vencedores de sambas dos últimos tempos - e também representante de uma das firmas fortes nas disputas. Ele mesmo explica o motivo do nome "escritório".
- Isso é porque eu fazia samba no quartinho de empregada do meu pai. A gente tinha um computador lá, um telefone. Aí, quando eu começava a rascunhar o samba, fazia ali. O pessoal chegava e falava: "Olha aí, o André faz samba no escritório". Como conseguimos vencer muitas disputas, acabou pegando esse nome - explica André. Apesar disso, ele fica triste e diz que o nome é pejorativo.
Os sambas de escritório se beneficiam dos altos custos das disputas hoje em dia. Gravações, impressão de panfletos, letras, divulgação, intérprete, churrasco, cervejada, ônibus para torcidas. Esses apenas alguns dos gastos de um samba vencedor numa grande escola.
- Infelizmente, criou-se uma lenda de que os escritórios aumentaram os custos. Eles creditam aos escritórios a utilização de dinheiro para contratar os intérpretes. O problema não é o samba ser feito ou não por A ou B. Isso é comum. Na MPB, Cartola gravou um samba de Noel, que não quis assinar. Se tem algum escritório que vai fazer samba na Vila não tem problema. Só fico chateado porque creditam aos escritórios terem poderes econômicos. As disputas de samba também são chance de você colocar os compositores mais novos para aparecerem - avalia André.
Gusttavo Clarão: 'Há muita vaidade no mundo do samba'
- Há muita vaidade no mundo do samba. Numa parceria tem uns dois que fazem a letra, outro o arranjo e outro que entra com a grana, nada mais. Ele paga apenas para ter seu nome vinculado ao samba - revela. - Devem ter hoje, no mundo do samba, no máximo uns dez compositores. O resto é mecenas ou "laranja" - revela Gusttavo, compositor campeão na Estácio e Viradouro e hoje na Mangueira.
O termo é usado para designar aquele que "empresta" o nome para assinar um samba que não é de sua autoria, já que não é permitido um mesmo compositor assinar músicas em duas ou mais escolas.
Uma das críticas que é feita aos sambas de escritório é que eles estão acabando com as características das escolas. As melodias tão particulares das agremiações somem na pasteurização imposta pelas "firmas do samba".
Haroldo Costa pede atenção para segmentos da raiz
O pesquisador cultural, Haroldo Costa, tem a mesma opinião. Para ele, é preciso que as escolas prestem mais atenção nos segmentos da raiz. Segundo Haroldo, uma ideia seria aumentar a taxa de inscrição para compositores que tenham entrado mais recentemente.
- Com isso, poderia-se privilegiar aqueles que estão há mais tempo na ala dos compositores da escola. Os que verdadeiramente estão no dia-a-dia das escolas, participam do núcleo de organização das escolhas de samba - propõe.
André Diniz e Gusttavo admitem que "ajudam os amigos" em algumas escolas. Acabam vencendo muitas disputas e colhem os frutos do próprio talento. Mas revelam que algumas firmas pegam quase todas as sinopses.
- Sei de alguns que pegam quase todas as sinopses e fazem os sambas. Aproveitam-se do talento que tem, mas aí também já é demais. Acho que deturpa as disputas e, com o dinheiro que eles têm, acabam dominando os discos de samba-enredo - comenta Gusttavo.
Por outro lado, é inegável a boa qualidade de alguns sambas de escritório. Compositores, críticos e sambistas são unânimes ao comentarem que alguns hinos entraram para a galeria de inesquecíveis.
- Não se pode negar que eles são bons. Não são maioria, mas sem qualidade eles não venceriam, sem dúvidas - avalia Haroldo Costa.
Gusttavo aponta um dos caminhos para o novo mundo das disputas de samba-enredo: a mescla de antigos compositores e aqueles da nova geração.
O nome "escritório", para muitos, já não é exactamente o mesmo. O compositor André Diniz, da Vila Isabel, é um dos maiores vencedores de sambas dos últimos tempos - e também representante de uma das firmas fortes nas disputas. Ele mesmo explica o motivo do nome "escritório".
- Isso é porque eu fazia samba no quartinho de empregada do meu pai. A gente tinha um computador lá, um telefone. Aí, quando eu começava a rascunhar o samba, fazia ali. O pessoal chegava e falava: "Olha aí, o André faz samba no escritório". Como conseguimos vencer muitas disputas, acabou pegando esse nome - explica André. Apesar disso, ele fica triste e diz que o nome é pejorativo.
Os sambas de escritório se beneficiam dos altos custos das disputas hoje em dia. Gravações, impressão de panfletos, letras, divulgação, intérprete, churrasco, cervejada, ônibus para torcidas. Esses apenas alguns dos gastos de um samba vencedor numa grande escola.
- Infelizmente, criou-se uma lenda de que os escritórios aumentaram os custos. Eles creditam aos escritórios a utilização de dinheiro para contratar os intérpretes. O problema não é o samba ser feito ou não por A ou B. Isso é comum. Na MPB, Cartola gravou um samba de Noel, que não quis assinar. Se tem algum escritório que vai fazer samba na Vila não tem problema. Só fico chateado porque creditam aos escritórios terem poderes econômicos. As disputas de samba também são chance de você colocar os compositores mais novos para aparecerem - avalia André.
Gusttavo Clarão: 'Há muita vaidade no mundo do samba'
- Há muita vaidade no mundo do samba. Numa parceria tem uns dois que fazem a letra, outro o arranjo e outro que entra com a grana, nada mais. Ele paga apenas para ter seu nome vinculado ao samba - revela. - Devem ter hoje, no mundo do samba, no máximo uns dez compositores. O resto é mecenas ou "laranja" - revela Gusttavo, compositor campeão na Estácio e Viradouro e hoje na Mangueira.
O termo é usado para designar aquele que "empresta" o nome para assinar um samba que não é de sua autoria, já que não é permitido um mesmo compositor assinar músicas em duas ou mais escolas.
Uma das críticas que é feita aos sambas de escritório é que eles estão acabando com as características das escolas. As melodias tão particulares das agremiações somem na pasteurização imposta pelas "firmas do samba".
Haroldo Costa pede atenção para segmentos da raiz
O pesquisador cultural, Haroldo Costa, tem a mesma opinião. Para ele, é preciso que as escolas prestem mais atenção nos segmentos da raiz. Segundo Haroldo, uma ideia seria aumentar a taxa de inscrição para compositores que tenham entrado mais recentemente.
- Com isso, poderia-se privilegiar aqueles que estão há mais tempo na ala dos compositores da escola. Os que verdadeiramente estão no dia-a-dia das escolas, participam do núcleo de organização das escolhas de samba - propõe.
André Diniz e Gusttavo admitem que "ajudam os amigos" em algumas escolas. Acabam vencendo muitas disputas e colhem os frutos do próprio talento. Mas revelam que algumas firmas pegam quase todas as sinopses.
- Sei de alguns que pegam quase todas as sinopses e fazem os sambas. Aproveitam-se do talento que tem, mas aí também já é demais. Acho que deturpa as disputas e, com o dinheiro que eles têm, acabam dominando os discos de samba-enredo - comenta Gusttavo.
Por outro lado, é inegável a boa qualidade de alguns sambas de escritório. Compositores, críticos e sambistas são unânimes ao comentarem que alguns hinos entraram para a galeria de inesquecíveis.
- Não se pode negar que eles são bons. Não são maioria, mas sem qualidade eles não venceriam, sem dúvidas - avalia Haroldo Costa.
Gusttavo aponta um dos caminhos para o novo mundo das disputas de samba-enredo: a mescla de antigos compositores e aqueles da nova geração.
FONTE:Rafael Ribeiro Carnavalesco
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